quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Brincando de War


Quando as luzes se acenderam, pode-se notar o transtorno estampado nos rostos dos telespectadores. Todos imóveis, baqueados, estarrecidos, olhares perdidos ao longe. Um silêncio pesado, onde seria possível ouvir gritos de fúria e revolta, não fossem abafados pela boa educação e etiqueta dos mesmos.

Foi assim, com a sensação de terem sido vítimas de espancamento (bofetadas, no mínimo), que as primeiras 300 pessoas que chegaram no Cine Bombril na segunda-feira, dia 19 de Janeiro (pois é, escrevo com certo atraso), ficaram, após assistir a pré-estreia do documentário "O Novo Século Americano".

Fernando Meirelles, cineasta e cinéfilo, diretor do muito comentado “Ensaio sobre a Cegueira”, foi quem quebrou o gelo na sala. Ao seu lado, Donald Ranvaud, produtor (e, no debate, defensor) do filme, Paulo Betti, a voz que narra os mais de 100 minutos de documentário, e o filósofo e colunista Luis Carlos Pondé, estavam compondo a mesa promovida pela Folha de São Paulo.

O Novo Século Americano segue a linha dos filmes de Michael Moore, e também trata da questão de 11 de Setembro. No documentário, feito a partir da colaboração de imagens e depoimentos de pessoas que participaram direta ou indiretamente da invasão dos EUA ao Iraque, o diretor Massimo Mazzucco sugere, por conta do currículo bélico estadunidense, que um grupo de quatro homens, os chamados ‘neocons’ (neoconservadores), sejam os articuladores de toda estratégia do país - que nada mais é que dominar o mundo todo. Mesmo que, pra isso, tenham que simular um ataque ao seu próprio Congresso (Pentágono).

Dominar o mundo... Mais? Já somos completamente dominados. Absorvemos toda a cultura americana. E não só na mídia (música, cinema e tv). Consumimos o que eles consomem, da mesma forma que consomem: descontroladamente.
O filme deixa claro que todas as guerras e confrontos que os EUA financiaram ou participam, eles lucram, no sentido mais comercial da palavra. Não é a toa que donos das multimarcas (Nike, Coca-Cola, IBM, etc) participam das principais reuniões no mundo. Ingenuidade nossa acreditar que um presidente tem mais autonomia do que um desses bambambans. Afinal, são eles que têm a capacidade de controlar o mercado do mundo, certo? Dói dizer isso, mas quando você compra um Nike, está contribuindo para piorar essa situação. Quando você ouve que "o futuro está em suas mãos", acredite. Está em cada centavo que você gasta, para onde você repassa o seu dinheiro.

OUT: Quer saber pra onde vai o seu dinheiro? Como consumir legal? Assiste esse vídeo: A_história_das_coisas .

"O Novo Século Americano" traz tanta informação que é difícil absorver tudo. Mas vou chamar atenção pra outro ponto.

É de cair da cadeira as imagens dos soldados americanos no Iraque, humilhando os muçulmanos. Num dos vídeos, dois soldados filmam colegas maltratando crianças e ainda zombam do pedido de suplício delas. Não se sabe quem, ali, é mais imaturo. É o retrato da imbecilidade humana. Frutos da lavagem cerebral do american way of life. Crianças fardadas com metralhadoras nas mãos, é o que se vê numa outra filmagem. O soldado, de dentro do helicóptero, com a mira em um caminhão, pede licença ao comandante para atirar. O caminhão explode segundos depois. Mais adiante, há um grupo com umas 15, 20 pessoas. "Pode liquidar?", após 2 segundos de silêncio do chefe: "Pode.". Simples assim. Basta um sim e apertar o gatilho. O que são mais ou menos 20 pessoas? Manipulam a vida desse povo com apenas um botão. Como se estivessem jogando vídeo game

E isso não chega nem perto das atrocidades que eles cometem. As torturas nas prisões (vide foto) vão desde ferimentos com alicates (como se praticava na Segunda Guerra), até caso de estupros. No final do documentário, para se ter uma ideia, um video mostra soldados de dentro do caminhão, segurando uma garrafa d'água enquanto crianças correm desesperadamente atrás do automóvel. Definitivamente, o fim.

Essa general americana foi expulsa pelo que fez com os prisioneiros iraquianos. Justo, não?

Quem quiser se revoltar, assim como eu e Ane“O Novo Século Americano” está em cartaz no HSBC Belas Artes e Frei Caneca Unibanco Arteplex, até quando não sei, pois a distribuição do filme - feita pela Mobz e O2, de Fernando Meirelles - não teve tantos recursos para prolongar a estadia do documentário nos cinemas. Afinal, quem é que tem interesse em saber sobre o gasoduto que os EUA construiu atravessando o Irã (aquele mesmo, o Irã ameaçador, dono de armas nucleares)? 

"É um filme que deve ser visto, comprando as teses dele ou não", aconselha Meirelles.

Nenhum comentário: